1 NÉFI 1:2 - A “LÍNGUA DOS EGÍPCIOS”
- César Félix
- 29 de jan. de 2017
- 4 min de leitura

"Sim, faço um registro na língua de meu pai, que consiste no conhecimento dos judeus e na língua dos egípcios" (1 Néfi 1:2).
O versículo 2 do capítulo 1 de 1 Néfi, indica que Leí e Néfi usaram a “língua dos egípcios” para registrar sua história nas placas de ouro. Este versículo tão simples traz uma vasta riqueza de informações.
As escrituras revelam que o tempo que os filhos de Israel habitaram no Egito foi de quatrocentos e trinta anos (Êxodo 12:40), tempo esse suficiente para que o mesmo recebesse parte da cultura deste povo, no caso, sua forma de comunicação, isto é, sua língua. Eis aqui um pouco de história: após Moisés tirar os filhos de Israel do cativeiro no Egito (Êxodo 3–14), eles foram governados por juízes durante mais de trezentos anos. Começando com o rei Saul, Israel unida foi governada por reis até a morte de Salomão, época em que as dez tribos se rebelaram contra Roboão para formar uma nação independente. Depois que o reino de Israel foi dividido, as tribos do Norte, sendo a parte maior, mantiveram o nome de Israel, ao passo que as do reino do Sul tomaram o nome de Judá. Sabemos que a família de Leí saiu de Jerusalém em 600 a. C., no começo do reinado de Zedequias rei de Judá.
Quatrocentos e setenta anos depois da saída de Leí, o rei Benjamim ensinou a seus filhos o “idioma dos egípcios”, que não só era a língua em que as placas de ouro foram escritas, mas também a das placas de latão (Mosias 1:1–4). No Livro de Mórmon, o termo “egípcio reformado” só aparece em Mórmon 9:32. Aparentemente, “egípcio reformado” é um termo usado para indicar a existência de uma variação do idioma egípcio conforme empregado por Leí e Néfi. Em Mórmon 9:32–33, Morôni diz que em sua época, aproximadamente mil anos depois do tempo de Leí e Néfi, tanto o egípcio como o hebraico tinham sido alterados e sua forma já não era a mesma empregada por Leí e Néfi.
Morôni explica que devido as placas não serem suficientemente grandes, eles não puderam escrever em hebraico – que obviamente ocuparia um maior espaço – mas o hebraico também havia sido alterado pelo povo; e se tivessem escrito em hebraico, nenhuma imperfeição iriamos encontrar no registro de seu povo. Mais adiante Morôni afirma que o Senhor sabe de todas a coisas, e que também a língua que eles usavam era desconhecida a todos os povos; e por essa mesma razão o Senhor preparou[1] meios para sua interpretação (Urim e Tumim) (Mórmon 9:34).
HEBRAÍSMO NO LIVRO DE MÓRMON
Ao aprendermos um idioma temos a tendência natural de usar a mesma estrutura de nosso idioma nativo para nos comunicarmos. De modo que em Português falamos "Você poderia fazer a oração?", em Inglês o verbo "fazer" nunca poderia ser utilizado em conjunto com "oração", sendo o correto "Você poderia dizer a oração?".
Se “O Livro de Mórmon” foi de fato escrito por Judeus que estavam grandemente familiarizados com o idioma Hebraico, seria de se esperar que encontrássemos a estrutura e forma de pensar do idioma Hebraico, denominados Hebraísmos, em seus registros escritos. Uma análise ao texto do Livro de Mórmon surpreendentemente indica a existência de uma infinidade de exemplos de Hebraísmos. Analisemos alguns destes exemplos:
Em 1 Néfi 8:2 Leí diz:
"Eis que sonhei um sonho".
Sério? O que mais poderia ter Leí sonhado? Apesar de que a expressão "sonhar um sonho" possa parecer como um pleonasmo (algo como subir para cima, descer para baixo, entrar para dentro e etc.), esta é exatamente a forma com que a frase seria escrita em Hebraico.
Semelhante a 1 Néfi 8:2, em 1 Néfi 2:6 lemos:
“E aconteceu que depois de haver viajado três dias pelo deserto, ele armou sua tenda num vale, à margem de um rio de águas. ”
Certamente até um fazendeiro com pouco estudo ,como Joseph Smith, saberia que um rio é feito de águas, e que esta não é a maneira correta de se descrever um rio. Mas, em Hebraico, esta seria exatamente a maneira como esta frase seria escrita.
Em Helamã 3:14 lemos:
"Mas eis que uma centésima parte dos feitos deste povo, sim, a história dos Lamanitas E dos nefitas E suas guerras E contendas E dissensões; E de suas pregações E de suas profecias; E de suas viagens marítimas E construção de barcos; E construção de templos E de sinagogas E seus santuários; E de sua retidão E suas iniquidades E seus assassinatos E seus roubos E suas pilhagens E todo tipo de abominações E libertinagens, não pode ser incluída nesta obra."
Com apenas 3 anos de educação formal, Joseph Smith provavelmente estaria capacitado a saber que não se deve utilizar todos aqueles "e" para unir os diversos itens da frase. Quando incluímos uma lista de itens ou eventos em uma frase, devemos separar cada item apenas com uma vírgula, sem a necessidade da repetição da conjunção "e".
Porém, como o idioma Hebraico não possui vírgulas, a repetição do "e" é exatamente a forma correta de se unir os itens da frase. Algo que certamente Joseph Smith não saberia.
Assim como um americano não diria "Posso ter um copo de água", a menos que estivesse pensando em Inglês, tais exemplos não estariam no texto, a menos que os autores estivessem pensando em Hebraico.
NOTAS
[1] Note que está escrito “preparou”, ou seja, aquelas mesmas pedras de vidente (Urim e Tumim) que foram dadas junto as placas a Joseph Smith eram também aqueles mesmos interpretes usados pelo rei Mosias (Mosias 8:13), que foram passados de geração em geração até chegar em Morôni que enterrou e selou-os junto dos registros.
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